segunda-feira, 30 de abril de 2012

São Luís, Maranhão,Brasil, 30-04-2012

Amanhã é feriado e a cidade está vazia desde sábado. Até os jornais estão vazios, ainda mais do que o habitual. Mas o cúmulo da supresa foi hoje: o Estado tinha duas notícias internacionais! Duas. Uma sobre as eleições no México - o PRI está de volta e é o favorito - e uma bomba na Nigéria mata trinta cristãos. As fontes foram de ponte, está visto.

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Hoje fui passear ao Shop Rio Anil, onde no outro dia fui a correr comprar uma garrafa de vinho para oferecer. É maior do que o Shop São Luis, sem dúvida. Mas é um igual desolo. Todos os centros comerciais o são, não é?

Continuo a não encontrar os atacadores e as lentes escuras para os óculos; em contrapartida encontrei outras coisas que não esperava, é verdade. E dei um grande passeio de autocarro por uma zona da cidade onde raramente vou.

Esse era um dos objectivos, de resto: sair do Reviver, do Centro,  dos sítios que conheço e ir para outros lados.

São Luís é uma cidade enorme, pois há relativamente poucos prédios. A maioria da população vive em casas e a cidade, apesar de nem ser muito grande para os padrões brasileiros - é a 16ª, com cerca de um milhão de habitantes - estende-se por dezenas de quilómetros quadrados.

Gosto de andar de autocarro; é uma forma barata e interessante de passar o tempo. Às vezes, em Paris, quando não tinha dinheiro, fazia isso: metia-me num autocarro qualquer, ao acaso, e fazia uma volta ou duas do percurso. Em Londres nunca o fiz, não sei porquê. Preferia andar.

Andar de autocarro em São Luís é menos agradável do que em Paris por três ordens de razões:

  • Os autocarros são menos confortáveis, conduzidos de uma forma mais agressiva e  as ruas estão em muito pior estado;
  • As paisagens - a humana e a física - são mais feias;
  • Por fim, mas não menos importante: eu estou em São Luís. Se estivesse em Paris estaria decerto a chorar pelos autocarros de Antananarivo (onde estive um dia de passagem  e de que não guardo especiais recordações), da minha bem amada Buenos Aires ou pelos de outro lado qualquer que na altura me passasse pela cabeça.


A verdade é que nem toda a São Luís cheira mal. Há por vezes grandes extensões de terreno sem construções - são bocadinhos de selva, o termo não é um exagero - no meio da cidade, e cheiram bem. Passei por um que tinha cinco ou seis cavalos a pastar; noutro a selva chegava aos limites do muro. Estive quase para descer, aquilo parecia uma floresta amazónica, mas já estava na volta e com vontade de comer um belo naco de carne do Dom Francisco.

Andei um bom bocado - não tanto como os nove quilómetros de ontem, mas metade disso. Gosto desta mistura de calor e vento; e hoje, com a cidade a meio gás por causa do feriado, havia pouco trânsito, pouco barulho, pouca gente. Surpreendi-me a pensar que talvez o erro tenha sido vir para o Reviver, que se tivesse ficado noutro lado talvez a cidade não me saísse agora pelos olhos como sai. Não sei. Não é só a cidade, são as pessoas, a sua total falta de confiabilidade, a impossibilidade de se acreditar no que quer que seja.

Não sei.

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A Lena foi para o aeroporto às duas da manhã, mas o avião só saíu às sete e meia. Quando chegou a Recife o saco não apareceu. Ficou em Fortaleza. Escreveu-me a dizer que chorou como uma estúpida. Por muito menos do que isso conheço muita gente que teria chorado muito mais, minha filha. Deve ter sido a viagem mais sem sentido de que ouvi falar nos últimos anos.

Do que me sinto parcialmente culpado, porque fiquei com a data que o senhor da agência me deu no ouvido e não olhei para a do papel.

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