terça-feira, 3 de abril de 2012

São Luís, Maranhão, Brasil, 02-04-2012

Basta chover um bocadinho (um bocadinho em unidades de tempo, claro) para que as ruas de São Luís fiquem inundadas. É compreensível, numa cidade onde raramente chove torrencialmente (isto é, raramente chove torrencialmente mais do que uma ou duas vezes por dia). Porém hoje descobri uma consequência agradável da chuva: os autocarros - pelo menos aquele onde eu estava - andam mais devagar.

Andar de autocarro em São Luís é uma experiência especial devido à desconjuntante mistura de alta velocidade, ruas num estado lastimável, veículos velhos, desconfortáveis e quase sempre a abarrotar. Mas caíu um aguaceiro durante o dia (normalmente vêm mais tarde) e o homem abrandou bastante, seja Deus louvado. O autocarro vinha vazio e de repente a experiência ficou quase agradável; prazer esse que durou até a visibilidade regressar, dez minutos depois.

........
Na sexta-feira João, o senhor de "ascendência turca" que preside a mais organismos do que eu tenho camisas ficou interessado na minha experiência em turismo náutico, e marcou uma reunião com a senhora M., presidente de um outro organismo (não sei quantos há; devem ser muitos). Hoje fui à reunião e saí de lá com a agradável incumbência de organizar um seminário sobre náutica de recreio em São Luis, lá mais para o verão.

Durante a reunião mostrei à senhora M. um brevíssimo excerto da minha intervenção no seminário Mares da Lusofonia. Ela observa com atenção e a dada altura pergunta-me "o que é lusofonia?". Primeiro pensei que estava a ironizar, ou a fazer humor, mas não estava.

........
Sou um homem de hábitos, coisa que herdei do meu Pai. Ele conseguiu ir ao mesmo barbeiro mais de quarenta anos, sempre que estava em Lisboa ia lá; até que o barbeiro morreu, ou Lisboa ficou muito longe, não sei. Eu sou fiel aos rituais (sou fiel a tudo), mas os meus raramente duram tanto tempo. Para mim o gozo consiste em criá-los, mais do que em mantê-los.

A Casa das Tulhas, ou Mercado da Praia Grande, é uma construção quadrada (ocupa todo um quarteirão) cujo pátio interior é ocupado por outra construção, essa circular. A maior parte dos stands (boxes) vendem produtos regionais: aguardentes, castanha de caju, camarões. Há uma livraria - onde comprei um livro chamado O Monstro Souza, obra seminal sobre São Luís e imprescindível para quem queira compreender a cidade (é um livro imprescindível, ponto; a menos que não queiram de todo perder a vontade de comer cachorros quentes) -; a box do homem do Corinthians, um clube de futebol; a do Nego, onde vou beber a minha pinga depois do almoço. E agora há também a esplanada da Tia Amélia, mãe da Tia Rosa, que me serve com carinho e ternura a cerveja ou a carne do sol.

Rosa é uma senhora loira, muito pequena e magra, pouco mais nova do que eu. Felizmente está sempre vestida com uma base preta e coisas muito garridas por cima, se não seria transparente e ver-se-ia através dela, de tão magra. É o meu Skullduggery em São Luís - os rituais são para se manter, mesmo que mudemos de nome, língua, cor e forma, de país.

......
Hoje conheci uma banda de música congolesa. Está na Portas da Amazónia, local habitualmente escolhido por artistas de passagem em São Luís. Chama-se Baloji (é nome do leader) e vai tocar amanhã num dos teatros da cidade. Vejam isto e digam-me se não é uma simples maravilha: a classe, a roupa, a beleza, uma música política inteligente e dançável.



Zaire, Congo, whatever for ever!

Sem comentários:

Enviar um comentário