Ontem a Lena foi para o aeroporto, mas o avião era hoje. O senhor da agência de viagens enganou-se quando me disse a data de regresso e eu não li o papel todo. Hoje foi para o aeroporto e ao fim de seis horas de espera avisaram que o voo ia ser anulado.
A TAM pagou-lhe o hotel, o táxi e um hamburguer, aparentemente; mas isso não a impediu de me dizer "Pai, estou farta do Brasil". Não nos vimos: ela foi para o hotel, trocámos duas ou três mensagens no Facebook e refugiou-se no bendito sono. Volta para o aeroporto às duas da manhã.
Sei o que queres dizer, Helena.
Hoje o motorista do camião que devia ter trazido o mastro, com quem tenho falado praticamente todos os dias desde que se comprometeu a trazer-mo, disse-me que afinal não podia. Esperou e fez-me esperar mais de uma semana.
"Estar farto" já foi há muito tempo. Agora sonho com bombas atómicas, bombas termonucleares, bombas de fragmentação, distribuição forçada de crack, uma espécie de Zorro gigante e vingador nos céus do país; e depois disto tudo caixas de champagne em cada um dos aviões que me levará daqui.
Não é muito original. Hoje comentava com T., a governanta da pousada, quão difícil é trabalhar no Brasil. "No Nordeste", corrigiu-me. "Em São Paulo não é assim; eu também estou ansiosa por regressar". É de São Paulo e veio aqui só para dar uma ajuda na formação do pessoal. Coisa que tem feito com um sucesso considerável, mas à custa de uma dedicação e uma quantidade de trabalho absolutamente notáveis. Mas está, ela também, pelos cabelos.
........
De maneira acabei no cinema. Há uma Mostra do Cinema Francês, os bilhetes são de borla, fui ao acaso. O filme de hoje chamava-se A tout de suite, de Benoît Jacquot.
É uma interminável xaropada. Os franceses dominam à perfeição a arte de estragar uma história (digo os franceses e imediatamente me vêm ao espírito os nomes de Truffaut, Rohmer, Malle, Melville, Resnais, o meu cineasta favorito, de longe, toutes catégories confundues. Não são os franceses, claro: é só a maioria deles; ou alguns deles. Não sei).
É a história, ao que parece verídica e filmada a preto e branco, de uma jovem burguesa que nos anos 70 se apaixona por um criminoso e acaba por acompanhá-la na fuga - Espanha, Marrocos, Grécia.
Daí telefona ao pai, que a vem buscar (com a mãe, que até aqui não tínhamos visto, porque se não a jovvem não teria muitas razões para se apaixonar por um marginal e blábláblá). Depois o jovem marginal morre e a jovem burguesa vai trabalhar para um Club Med.
O filme podia ser bom; mas é uma antologia de clichés, lugares comuns, personagens vazias, caricaturais, desinteressantes, banais. O criminoso não é assim tão criminoso, a mãe não é assim tão distante, o pai até é bom pai.
A TAM pagou-lhe o hotel, o táxi e um hamburguer, aparentemente; mas isso não a impediu de me dizer "Pai, estou farta do Brasil". Não nos vimos: ela foi para o hotel, trocámos duas ou três mensagens no Facebook e refugiou-se no bendito sono. Volta para o aeroporto às duas da manhã.
Sei o que queres dizer, Helena.
Hoje o motorista do camião que devia ter trazido o mastro, com quem tenho falado praticamente todos os dias desde que se comprometeu a trazer-mo, disse-me que afinal não podia. Esperou e fez-me esperar mais de uma semana.
"Estar farto" já foi há muito tempo. Agora sonho com bombas atómicas, bombas termonucleares, bombas de fragmentação, distribuição forçada de crack, uma espécie de Zorro gigante e vingador nos céus do país; e depois disto tudo caixas de champagne em cada um dos aviões que me levará daqui.
Não é muito original. Hoje comentava com T., a governanta da pousada, quão difícil é trabalhar no Brasil. "No Nordeste", corrigiu-me. "Em São Paulo não é assim; eu também estou ansiosa por regressar". É de São Paulo e veio aqui só para dar uma ajuda na formação do pessoal. Coisa que tem feito com um sucesso considerável, mas à custa de uma dedicação e uma quantidade de trabalho absolutamente notáveis. Mas está, ela também, pelos cabelos.
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De maneira acabei no cinema. Há uma Mostra do Cinema Francês, os bilhetes são de borla, fui ao acaso. O filme de hoje chamava-se A tout de suite, de Benoît Jacquot.
É uma interminável xaropada. Os franceses dominam à perfeição a arte de estragar uma história (digo os franceses e imediatamente me vêm ao espírito os nomes de Truffaut, Rohmer, Malle, Melville, Resnais, o meu cineasta favorito, de longe, toutes catégories confundues. Não são os franceses, claro: é só a maioria deles; ou alguns deles. Não sei).
É a história, ao que parece verídica e filmada a preto e branco, de uma jovem burguesa que nos anos 70 se apaixona por um criminoso e acaba por acompanhá-la na fuga - Espanha, Marrocos, Grécia.
Daí telefona ao pai, que a vem buscar (com a mãe, que até aqui não tínhamos visto, porque se não a jovvem não teria muitas razões para se apaixonar por um marginal e blábláblá). Depois o jovem marginal morre e a jovem burguesa vai trabalhar para um Club Med.
O filme podia ser bom; mas é uma antologia de clichés, lugares comuns, personagens vazias, caricaturais, desinteressantes, banais. O criminoso não é assim tão criminoso, a mãe não é assim tão distante, o pai até é bom pai.
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