terça-feira, 6 de março de 2012

Parnaíba, Piauí, Brasil, 06-03-2012


O sentido de humor brasileiro, como se sabe, é imenso. Tanto que começa logo na bandeira.

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"Atrás de mim virá quem de mim bom fará". Cada vez que penso na promessa de não voltar a África ocorre-me este velho e sempre verdadeiro provérbio.

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B. parece uma obra de Christo copiada por um deficiente físico ajudado por um deficiente mental. Mas pelo menos cobri-lo de plástico teve um efeito benéfico: parou de chover.

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Penso no "meu" Brasil, tão diferente do de S. "Eles são mais pontuais do que eu", exclamou ao telefone depois do seu primeiro dia em Porto Alegre, vai para quinze anos (é suíça, o que explica parcialmente a surpresa). Mas os seus brasileiros são diferentes dos meus: psiquiatras, pedopsiquiatras, médicos, investigadores, pediatras... Nada a ver com os meus bêbedos, cocainómanos, crackómanos (?) e outros mentirosos de todas as classes sociais possíveis e imaginárias.

Costumo pensar em Portugal como um país esquizofrénico, dois em um. Das elites intelectuais e financeiras de Rio e S. Paulo aos índios da Amazónia, de Rio Grande do Sul a Oiapoque e as suas pousadas cheias de baratas atrevidas quantos brasis haverá? Cinco? Dez?

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O trabalho avança. Ganhou o seu próprio ritmo; tudo o que há por fazer (e é quase tudo) aparece-me claro como um filme que já vimos duas ou três vezes - sabemos que vamos ter surpresas, mas já conhecemos o fundamental da história. Amanhã vai ser preciso mudar um dos calços, porque ficou demasiado perto de um dos buracos; resinar os buracos todos, continuar a secar a madeira; fibrar. Depois de amanhã, substituir os calços por carnaúba. Entretanto, fazer as caixas para o transporte por estrada do material, encaixotar o equipamento todo, pô-lo no camião, com o mastro, a retranca e as quilhas. Arranjar quem descarregue as coisas e confira que está tudo. Depois, tirar B. da carreira do estaleiro e atracá-lo num trapiche aqui em Parnaíba ou directamente em Luis Correia, não sei ainda (prefiro aqui, porque estou mais perto do estaleiro se alguma coisa correr mal. Mas o trapiche em Parnaíba é tudo menos seguro). Depois a viagem por mar até S. Luis.

Tudo isto parece simples. Na Suíça, ou na Alemanha quase se poderiam acertar os relógios pelo desenrolar do plano. Aqui cada uma destas tarefas é uma incógnita, um desafio, uma prova. E nunca se sabe quanto tempo vai durar. Pelo menos está claro, até à chegada ao estaleiro Bate Vento, do Sérgio. O que há a seguir é um enorme banco de nevoeiro, que só se dissipará quando, como aqui, o trabalho adquirir o seu ritmo.

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Hoje o velho ditado "se uma coisa parece demasiado boa para ser verdade é-o" provou ser verdade. (A única coisa que conheço e o desmente és tu.)

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