sábado, 3 de março de 2012

Nonsuch Bay, Antígua, 03-03-2012

Alguém comeu uma laranja no meu camarote. Não só cheira a laranja como está uma casca de laranja no caixote do lixo. É certo que o barco não me pertence, mas acho uma falta de respeito entrar assim nos aposentos de alguém e comer frutas de cheiro intenso.

Não percebo porque é que Nonsuch Bay se chama assim, mas começo a achá-la um Nonsuch place to be. Seria magnífico acordar aqui alguns dias, tomar o pequeno almoço no convés de um veleirito em boa companhia, dar um mergulho e ler um livro o resto do dia, ou mesmo não fazer nada (pronunciável). Quando me levantei, às 6.15h, o imediato S. estava no convés a limpar tudo. Polia cunhos e guinchos com uma cera especial para metais, depois atirou-se aos vidros e, enquanto eu abria as persianas no salão, ele ia-me fazendo gestos do lado de fora, querendo dizer «tens uma dedada de criança na parte de dentro do vidro». Duas horas nisto, a sacudir almofadas, limpar o pó e fazer de conta que o barco é um museu -- é ridículo, mas utilizo um produto que se chama "Museum Wax" que dá aos móveis e ornamentos um aspecto ao mesmo tempo brilhante e tosco, sou-velho-mas-estou-imaculado, difícil de explicar.

As crianças têm dois anos e dois meses. O mais velho é lindo, igual à mãe, e o mais novo parece um europeu do Leste com trinta anos, coisa que será daqui a apenas trinta anos. Dizem que as crianças bonitas dão adultos feios (eu, por exemplo, fui uma criança muito bonita) e conheço alguns adultos lindos que foram feiosos em meninos. Cada um tem uma ama e por isso estão quase sempre em silêncio, tirando quando não estão, momentos que compensam largamente os restantes em matéria decibélica. A ama do mais velho é adorável, mas não fala uma palavra de inglês e insiste em comunicar comigo em polaco. Aposto que hoje me disse «Cuidado que o miúdo mijou a cama toda...» e eu, se soubesse, teria respondido «Pudera!». O capitão mandou Ja. às compras. Além de todo o tipo de aperitivos de batata para a tripulação, comprou para a sobremesa o único bolo que a mulher do armador não come e fraldas para Nenucos (dos pequenos).

O armador, ou "The Boss", como lhe chamam todos, só se vai embora na próxima sexta-feira, disse-nos K., fonte segura -- afinal, joga xadrez com ele. Pensei várias vezes que vou ter de arranjar uma maneira criativa de aguentar mais uma semana neste regime. Estou farta de engomar guardanapos de linho e t-shirts Roberto Cavalli de pior qualidade do que algumas que comprei na Zara há três anos. Sempre lisas, que as marcas não são para gritar.

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