segunda-feira, 5 de março de 2012

Nonsuch Bay, Antígua, 05-03-2012

Nonsuch Bay está farta de nós. Garrámos um bocado por vontade do vento e, em resultado da ligeiríssima sacudidela que se fez sentir, o armador decidiu que amanhã cedo quer viajar até um lugar diferente: o outro lado da mesma baía.

Tive um dia muito intelectual. De manhã, enquanto engomava, ouvi três lições de uma hora de Ciência Política da professora Wendy Brown, de Berkeley, quase tão encantadoras como as do professor Hermenegildo Ferreira Borges, que dá Teoria Política na Nova -- por falar nisso, o verbo dar no que diz respeito às aulas ou lições dava um semestre inteiro de uma cadeira de teoria da educação ou coisa que o valha. Abençoado iTunes U, que permite a qualquer cidadão ouvir, de borla, as melhores aulas das melhores cadeiras das melhores universidades do mundo. Foi graças a ele que, recordando Tocqueville e a sua admiração pelo puritanismo, me pus a pensar que a Suíça é a única democracia do mundo que ainda conserva algumas das características que fascinaram o autor nos Estados Unidos e me senti a mulher-a-dias mais pretensamente culta do planeta. 

À tarde, o Ja. perguntou ao outro Ja. qual era a língua mais descritiva do mundo. Vendo que o outro Ja. não conseguia responder, armei-me em boa e falei-lhe de Wittgenstein, da matemática e do Alemão, e tentei explicar-lhe que podia substituir a palavra "descritiva" por "rigorosa". Disse-lhe que, usando a primeira, o sucesso da comunicação não só dependia da sua capacidade de descrever, como da qualidade da linguagem que estivesse a utilizar (lá estava a sua pergunta) e, sobretudo, da imaginação ou da memória do seu interlocutor; usando a segunda, saberia apenas que estava a utilizar a linguagem que mais se aproximava da realidade, mas mesmo assim teria de contar com que essa linguagem fosse dominada também pelo seu interlocutor. Ninguém percebeu nada. 


1 comentário:

  1. Hummm... Será que a tua linguagem foi suficientemente descritiva, querida?

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