domingo, 24 de março de 2013

Napa Valley, Califórnia, EUA, 24-03-13

Não há barco que não tenha uma história; raras são as que têm algum interesse. A do ARTIC FRONT pode não ser muito original, mas é das mais humanas que tenho conhecido: um senhor constrói um barco durante dezanove anos; muito pouco tempo depois de o barco ficar pronto adoece gravemente e dá-o a um amigo. Este não se interessa por barcos; deixa-o morrer tranquilamente num canto. Ao fim de dez anos (ou seja, quase trinta depois de ter começado a ser construído) o "amigo" entre aspas de propósito decide vendê-lo. Enter M., que o compra por um preço que faz a uva mijona passar por caviar (verdade seja dita que levou ano e meio a fechar o negócio ) e enche o bote de mimos.

Finalmente o barco vai servir para aquilo por que foi construído: dar vida a um sonho. Trinta e dois anos depois.

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Ontem foi o primeiro dia de trabalho a sério. Limpeza, claro. Há muitas razões pelas quais pessoas asseadas, civilizadas, educadas conseguem viver em barcos imundos; mas bem espremidas vão todas dar ao mesmo: não é o seu ambiente natural, e não pensam que certas regras são universais (não incluo uma certa e determinada nacionalidade nesta explicação; pouco interessa).

Na verdade, limpar uma embarcação - e sobretudo limpá-la a fundo, como vamos fazer nestes três ou quatro próximos dias - é uma tarefa de que gosto muito. É a melhor maneira de a ficar a conhecer, literalmente por dentro e por fora. É como namorar uma senhora apesar de já termos decidido que a resposta é sim; só queremos conhecê-la um bocadinho melhor antes.

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Pela primeira vez desde que atravessei o Atlântico no D. H. tenho um armador que não sabe tudo. É indecente, de tão bom.

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Sexta vamos para San Francisco e sábado largamos. Não sou supersticioso mas não gosto de correr riscos inúteis; não me passaria pela cabeça largar numa sexta-feira para uma viagem de três mil milhas.

Não sei se vamos conseguir respeitar o ETD, mas como sempre prefiro ter uma data e ajustá-la a trabalhar sine die. "Largamos quando estivermos prontos" é receita segura de desastre.

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