quarta-feira, 14 de março de 2012

Marigot, Saint Martin, 13-03-20

Há dias em que não dá. Faz-se tudo o que se tem para fazer, mas não se passa disso, porque não dá. Escrever, por exemplo, não passa hoje de um sacrifício doloroso (sou pelas hipérboles, pelos disfemismos e pleonasmos, contra os oxímoros) -- sei que é injusto para quem me lê, mas sê-lo-ia mais se eu atribuísse ao que escrevo alguma importância.

Vi, pela segunda vez, um bocadinho de Marigot. Não foi a primeira porque ontem saímos para jantar uma pizza no Le Bistro de la Mer, aqui ao lado, o que constituiu para mim uma emoção: o restaurante fica fora da marina. A refeição não foi memorável porque era o barco a pagar, o que significa que ninguém comeu o que lhe apeteceu. A tapenade era sofrível e a pizza banal, o empregado era afectado, mas no final ofereceu-nos a todos, para ver se conseguia vender uma garrafa, um shot de um rum caseiro feito pelo dono do restaurante (apenas a mistura, não existe uma destilaria no edifício), com um magnífico aroma de pêssego e maracujá. Fiquei de (adoro a expressão ficar de; eu, por exemplo, fiquei de cortar nos parênteses e tem sido o que se vê) comprar uma garrafa, mas primeiro preciso de dólares -- comprar em euros aqui sai mais caro.

Hoje fui às compras com o capitão ao Le Grand Marché, o supermercado grand cá do sítio, a uns 5 quilómetros da marina de Fort Louis. Quando chegámos aos stands de carros para alugar, fomos abordados por cinco tipos em inglês-tropical-bem-falante, cada um com sua oferta exclusiva (nunca menos de 40 dólares por dia, mais dez pelo seguro) de carros para alugar, todos dizendo conhecer o barco desde pequeninos e o dono, cujo apelido é impronunciável. A caminho do supermercado percebi que o carro é um meio de transporte bastante popular na ilha: há filas de trânsito a desoras, que fazem lembrar o eixo (o eixo... por esta não esperavam vocês!) Cascais-Guincho a um sábado ou domingo à tarde. Tirando a beleza inefável da paisagem, quase só vi lojas. Duty-free escrito em todo o lado, e ainda nem saí da parte francesa. «Saint Tropez das Caraíbas», diz o J., e parece ter razão. De qualquer forma, quando o pseudo-charter acabar, terei tempo para visitar as suas belezas naturais -- e comprar umas coisas.

O empregado de mesa do restaurante  pôs-me a pensar como algumas pessoas conseguem ser de tal forma desagradáveis que nem podemos chamar-lhes incompetentes. Não são; são apenas excepcionalmente antipáticas e irritantes, o que não significa que prestem um mau serviço. Agora que trabalho deste lado, e não atrás de um computador, no refúgio de uns quantos e-mails bem escritos e telefonemas polidos, pergunto-me se sou o que devia ser. Gosto que me sorriam, mas nem sempre é fácil sorrir. Enfim, é: basta querer. 

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