É preciso ser honesto: até ao segundo dia de viagem pensei que ela não ia terminar nunca, que ia bolinar no Golfo da Biscaia (apoiado pelo motor, a maioria das vezes), com frio e chuva e cinzento como a maior parte da minha vida pelo resto da minha vida; mas depois tivemos sol, o vento rondou um bocadinho e tudo ficou um muito melhor - a tal ponto que vi, no segundo dia pela primeira vez, o fim da viagem.
O qual mudara, entretanto. Deixou de ser Vigo e passou a ser La Coruña. É uma sorte, gosto mais desta do que daquela, que é uma cidade cinzenta e fechada. Ao princípio La Coruña parece uma ilha, tem mar por todos os lados; depois lembramo-nos da carta: La Coruña é uma península. Continuamos a passear e passa a ser uma grande península com muitas pequenas penínsulas agarradas.
É um fractal, geográfica, arquitectural, socialmente. Há prédios modernos nas zonas antigas, prédios antigos nas zonas modernas, as coisas imbrincam-se umas nas outras e tudo se reproduz a escalas cada vez menores. Há barcos de pesca na marina (porto de recreio, mais apropriadamente), mesmo no centro da cidade, como se as traineiras estivesse atracadas em Santos. Do outro lado fica o cais do granel e ao lado o dos cruzeiros. Há mar por todos os lados e cafés, bares, restaurantes com nomes irresistíveis, como Bebedeiro de rua ou Café do Tio Ovídio (um gajo imagina Ovídio atrás do balcão a dizer "Não se deseja aquilo que não se conhece" - não é verdade: ama-se o que não se conhece, só se ama o que não se conhece, só se ama enquanto não se conhece; ou "os anos aproximam-se silenciosamente" - é verdade, é sorrateiro o andar dos anos).
Há lojas antigas com empregados jovens e lojas novas com empregados velhos, ruas estreitas com carros e largas sem eles, há alegria e tapas e raciones, prédios lindos, boa disposição.
E chuva, claro. Verdade seja dita: hoje foi pouca. A tarde esteve linda e cheia de sol, que se reflectia nos sorrisos das raparigas e as fazia andar ligeiras, sorrir e seduzir.
........
Saio na sexta-feira. É bom largar de um porto de que se gosta muito; melhor do que de um que se detesta. Não sei porquê, mas é assim, Sempre foi. Pelo menos para mim.
........
São duas da manhã. As traineiras largam para o mar. O SOGNO agita-se. Vou deitar-me e sognare.
O qual mudara, entretanto. Deixou de ser Vigo e passou a ser La Coruña. É uma sorte, gosto mais desta do que daquela, que é uma cidade cinzenta e fechada. Ao princípio La Coruña parece uma ilha, tem mar por todos os lados; depois lembramo-nos da carta: La Coruña é uma península. Continuamos a passear e passa a ser uma grande península com muitas pequenas penínsulas agarradas.
É um fractal, geográfica, arquitectural, socialmente. Há prédios modernos nas zonas antigas, prédios antigos nas zonas modernas, as coisas imbrincam-se umas nas outras e tudo se reproduz a escalas cada vez menores. Há barcos de pesca na marina (porto de recreio, mais apropriadamente), mesmo no centro da cidade, como se as traineiras estivesse atracadas em Santos. Do outro lado fica o cais do granel e ao lado o dos cruzeiros. Há mar por todos os lados e cafés, bares, restaurantes com nomes irresistíveis, como Bebedeiro de rua ou Café do Tio Ovídio (um gajo imagina Ovídio atrás do balcão a dizer "Não se deseja aquilo que não se conhece" - não é verdade: ama-se o que não se conhece, só se ama o que não se conhece, só se ama enquanto não se conhece; ou "os anos aproximam-se silenciosamente" - é verdade, é sorrateiro o andar dos anos).
Há lojas antigas com empregados jovens e lojas novas com empregados velhos, ruas estreitas com carros e largas sem eles, há alegria e tapas e raciones, prédios lindos, boa disposição.
E chuva, claro. Verdade seja dita: hoje foi pouca. A tarde esteve linda e cheia de sol, que se reflectia nos sorrisos das raparigas e as fazia andar ligeiras, sorrir e seduzir.
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Saio na sexta-feira. É bom largar de um porto de que se gosta muito; melhor do que de um que se detesta. Não sei porquê, mas é assim, Sempre foi. Pelo menos para mim.
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São duas da manhã. As traineiras largam para o mar. O SOGNO agita-se. Vou deitar-me e sognare.
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