domingo, 9 de setembro de 2012

Palma de Maiorca, Ilhas Baleares, Espanha, 09-09-2012

Descobri Barcelona em 79 ou 80 pela mão de um casal peculiar: ele era basco, baixo, moreno quase escuro e falava espanhol e francês; ela era alemã, loira, alta e falava alemão e inglês. Entendiam-se porque frequentavam ambos a escola de mímica e comunicavam entre eles mimando.

Viviam no Barrio Chino, e a Barcelona com que tomei contacto foi a deles, claro:  porros de vinho e dos outros (muitos de ambos), tascas de "artistas" (alguns não mereciam aspas, verdade seja dita), ensaios de números de circo para a escola - dos quais um me ficou e ficará para sempre na memória.

Barcelona mudou, eu também, e os artistas (sem aspas; os outros estão iguais) muito mais. Pensava nisto ontem quando percorríamos as ruas de Palma com G. e A., os nossos amigos de Mallorca, através de quem conseguimos a casa. Ele é músico de rua, ela fotógrafa e levam-nos depois do jantar para o quarteirão "das prostitutas e dos ciganos".

O bairro é asséptico (em Barcelona o Barrio Chino desapareceu, pura e simplesmente; e poucos se lembravam dele, quando uma vez por lá andei à procura), as prostitutas invisíveis, de ciganos nem traços. Em Barcelona já ninguém bebe vinho por porros (se bem continuem a fumá-los, provavelmente com outro nome). O mundo está mais limpo; suponho que devo acrescentar "e ainda bem". Não acrescento. O que é inevitável é desinteressante. Só interessa o que temos possibilidade de alterar. Falar do vento não o muda.

O que interessa é o que gosto desta cidade, das suas árvores e da luz que elas filtram, da convivência harmoniosa de casas antigas e casas modernas, do ritmo lento e pacato das pessoas. Tal como amar uma pessoa, amar uma cidade é, sobretudo, querer conhecê-la. Ama-se o que (ou quem) não se conhece; amar é aprender. Quanto mais houver para aprender maior é o amor.


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