Seria muito mais dramático dizer "no dia em que o dinheiro acabou arranjámos os dois emprego". Mas o quotidiano não é, por definição, dramático; e isto é um diário, um quase diário, não uma obra de ficção.
Não arranjámos os dois trabalho: a Tatiana começou a trabalhar, e eu tive uma entrevista de cuja resposta estou à espera. Quanto ao dinheiro acabar: é um conceito fluido, esse do fim do dinheiro. Fugidio como o dinheiro ele próprio.
Para mim, dinheiro acabar é isso mesmo: quando a quantidade de euros, libras esterlinas, US ou EC dólares que tenho no bolso (o meu banco é o bolso) chega a zero. Simpaticamente, o meu banco manda-me um aviso na véspera desse dia e diz-me que devia talvez, quiçá, eventualmente começar a preocupar-me; o meu apetite aumenta vertiginosamente e oops, o dinheiro acaba. Para a Tatiana "dinheiro acabar" é diferente. É sinónimo de ter pouco - o que para mim é um pleonasmo, mas enfim, cada um é como cada qual e a semântica é de todos.
A verdade é que ainda tínhamos dinheiro para comer dois ou três dias, se comêssemos muito barato. Mesmo assim pusemos o iPad à venda num site de vendas em segunda mão. Nenhum de nós o usava, estava novo, e com dezoito e-mails e telefonemas de pessoas interessadas a coisa foi-se num ápice. Ficámos com dinheiro para mais uns dias (muitos, porque fizemos promessas de não o gastar) e fomo-nos de tapas, antes de ir comer ao restaurante.
Pouco a pouco a Tatiana vai aprendendo aquela grande verdade marinheira segundo a qual se não formos nós a gastar a massa ela gasta-se sozinha; mais vale gastá-la enquanto a temos. Ainda não chegou aos vinte e cinco anos (está quase); eu vou nos segundos e uma fracção dos terceiros. É natural que já tenha passado várias vezes por estas coisas, que a maioria das pessoas só vive uma vez.
Enfim, seja como for a jovem metade pensante de mim tem um emprego no M/Y D.; eu estou à espera que me respondam do A., igualmente a motor mas de 26 metros, para ir de tripulante até à Holanda. Temos dinheiro, livrámo-nos do iCoiso que era um peso inútil e continuamos a gostar de Palma - tanto que até já temos saudades antecipadas, para quando nos formos embora de vez.
Palma é uma cidade amável; quando passeamos nas ruas as árvores dão-nos sombra; inúmeros cafés e restaurantes propõem-nos de comer a um preço razoável e qualidade altíssima; há muitas livrarias e lojas de discos - algumas das quais, simpaticamente, mesmo ao lado de nossa casa. É uma cidade cosmopolita por causa dos turistas e dos yachties, dois grupos de que não sou fã nem faço parte mas que contribuem, sem dúvida, para fazer de Palma o que é.
Ontem começámos as tapas no 5ª Punheta (em espanhol de Espanha é o equivalente de "atrás do sol posto"); pergunto ao jovem e simpático senhor do balcão se sabe o que significa em português e ele responde-me num escorreito português do Brasil que sim; e que no espanhol da América Latina também. As tapas estavam óptimas, o tinto da casa igualmente, e o meu vocabulário saiu enriquecido.
........
Acabo de ter a confirmação de que tenho o trabalho no A. Largamos amanhã para a Holanda, não sei que porto. Dez a quinze dias de viagem. Gostaria que fosse um bocadinho mais, mas é melhor do que nada. Melhor do que Palma, até.
........
Hoje fui cumprir uma promessa e fui almoçar ao mini restaurannte Casa Julio.
Nunca tinha ido a um mini restaurante e além disso estou a morrer de saudades do meu amigo Júlio, que agora cria cães d'água portugueses no Alentejo.
Afinal o mini restaurante Casa Julio (do qual, aliás, já tinha tido as melhores referências) de mini não tem nada.
Muito pelo contrário, como se pode ver. E come-se lindamente, Júlio. Vê lá se vendes meia dúzia de ninhadas até ao fim do mês, que lá por volta da primeira semana de Outubro estarei por cá de novo.
A luz de Palma não é tão bonita como a de Lisboa, mas também tem coisas giras. Gosto muito da Rambla, mesmo ao lado de nossa casa,
e deste prédios, não muito longe.
De maneira agora hesito entre ir beber o que sobra do iPad (é uma expressão literária, querida, nada de sustos) ou ir dormir a sesta. Com um bocadinho de sorte e uma gestão apertada do tempo posso fazer as duas coisas.
Não arranjámos os dois trabalho: a Tatiana começou a trabalhar, e eu tive uma entrevista de cuja resposta estou à espera. Quanto ao dinheiro acabar: é um conceito fluido, esse do fim do dinheiro. Fugidio como o dinheiro ele próprio.
Para mim, dinheiro acabar é isso mesmo: quando a quantidade de euros, libras esterlinas, US ou EC dólares que tenho no bolso (o meu banco é o bolso) chega a zero. Simpaticamente, o meu banco manda-me um aviso na véspera desse dia e diz-me que devia talvez, quiçá, eventualmente começar a preocupar-me; o meu apetite aumenta vertiginosamente e oops, o dinheiro acaba. Para a Tatiana "dinheiro acabar" é diferente. É sinónimo de ter pouco - o que para mim é um pleonasmo, mas enfim, cada um é como cada qual e a semântica é de todos.
A verdade é que ainda tínhamos dinheiro para comer dois ou três dias, se comêssemos muito barato. Mesmo assim pusemos o iPad à venda num site de vendas em segunda mão. Nenhum de nós o usava, estava novo, e com dezoito e-mails e telefonemas de pessoas interessadas a coisa foi-se num ápice. Ficámos com dinheiro para mais uns dias (muitos, porque fizemos promessas de não o gastar) e fomo-nos de tapas, antes de ir comer ao restaurante.
Pouco a pouco a Tatiana vai aprendendo aquela grande verdade marinheira segundo a qual se não formos nós a gastar a massa ela gasta-se sozinha; mais vale gastá-la enquanto a temos. Ainda não chegou aos vinte e cinco anos (está quase); eu vou nos segundos e uma fracção dos terceiros. É natural que já tenha passado várias vezes por estas coisas, que a maioria das pessoas só vive uma vez.
Enfim, seja como for a jovem metade pensante de mim tem um emprego no M/Y D.; eu estou à espera que me respondam do A., igualmente a motor mas de 26 metros, para ir de tripulante até à Holanda. Temos dinheiro, livrámo-nos do iCoiso que era um peso inútil e continuamos a gostar de Palma - tanto que até já temos saudades antecipadas, para quando nos formos embora de vez.
Palma é uma cidade amável; quando passeamos nas ruas as árvores dão-nos sombra; inúmeros cafés e restaurantes propõem-nos de comer a um preço razoável e qualidade altíssima; há muitas livrarias e lojas de discos - algumas das quais, simpaticamente, mesmo ao lado de nossa casa. É uma cidade cosmopolita por causa dos turistas e dos yachties, dois grupos de que não sou fã nem faço parte mas que contribuem, sem dúvida, para fazer de Palma o que é.
Ontem começámos as tapas no 5ª Punheta (em espanhol de Espanha é o equivalente de "atrás do sol posto"); pergunto ao jovem e simpático senhor do balcão se sabe o que significa em português e ele responde-me num escorreito português do Brasil que sim; e que no espanhol da América Latina também. As tapas estavam óptimas, o tinto da casa igualmente, e o meu vocabulário saiu enriquecido.
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Acabo de ter a confirmação de que tenho o trabalho no A. Largamos amanhã para a Holanda, não sei que porto. Dez a quinze dias de viagem. Gostaria que fosse um bocadinho mais, mas é melhor do que nada. Melhor do que Palma, até.
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Hoje fui cumprir uma promessa e fui almoçar ao mini restaurannte Casa Julio.
Nunca tinha ido a um mini restaurante e além disso estou a morrer de saudades do meu amigo Júlio, que agora cria cães d'água portugueses no Alentejo.
Afinal o mini restaurante Casa Julio (do qual, aliás, já tinha tido as melhores referências) de mini não tem nada.
Muito pelo contrário, como se pode ver. E come-se lindamente, Júlio. Vê lá se vendes meia dúzia de ninhadas até ao fim do mês, que lá por volta da primeira semana de Outubro estarei por cá de novo.
A luz de Palma não é tão bonita como a de Lisboa, mas também tem coisas giras. Gosto muito da Rambla, mesmo ao lado de nossa casa,
e deste prédios, não muito longe.
De maneira agora hesito entre ir beber o que sobra do iPad (é uma expressão literária, querida, nada de sustos) ou ir dormir a sesta. Com um bocadinho de sorte e uma gestão apertada do tempo posso fazer as duas coisas.
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