domingo, 6 de maio de 2012

Marigot, Saint Martin, 06-05-2012

O armador saiu e vinte minutos depois já estávamos no jacuzzi, fazendo de conta que o barco era nosso. Decidi que só vou fazer mais uma saída com ele, depois demito-me. Uma das razões para a minha demissão é a necessidade absoluta de tentar, pelo menos, cumprir o objectivo que me trouxe até aqui (que não era trabalhar num mega-iate); outra, ou talvez a mesma, é algo de que já falei: desta vez estavam dez hóspedes a bordo, da próxima estarão doze. «Não foi p'ra isto que eu vim cá» e preciso de mudar de isto, porque isto é de mais para mim. As pessoas devem saber reconhecer os seus limites; eu passei dos meus demasiadas vezes e acho fundamentalmente desonesto fazer algo de que não gosto -- e aborrecido fazê-lo outra vez.

21h, Paradise Plaza Casino. Cheap-Date-Tati (porque segundo o capitão bebo dois copos de vinho e fico arrumada), S., J. e Mat, um taxista improvisado haitiano que se ofereceu para nos levar ao casino no seu carro e a quem pagámos 60 dólares, ida e volta (mais barato do que teria sido num táxi, 18 dólares a cada um só para a ida). Nunca tinha ido jogar a um casino e pedi aos rapazes que fôssemos. Concordaram porque a época está no fim: já quase não há barcos em St. Martin e os bares que acolhem os yachties (os da música-pastilha-elástica, rum punch da treta e engate fácil) estão fechados. Mas resmungaram o tempo todo.

Consegui a proeza de sair do Casino com o mesmo dinheiro com que entrei, apesar de ter jogado bastante. Saímos com S., que tinha perdido 40 dólares, a acusar-me de ser viciada; e com bastante vontade de ficar -- não é vício: as bebidas são grátis para quase todos, as empregadas não discriminam os clientes que, como nós, se sentam nas máquinas cuja aposta mínima é um cêntimo de dólar. Enquanto jogava, conheci um local que me contou que os seus compatriotas vão muito a casinos (há dezenas na ilha), estoirar o dinheiro do salário, porque a vida na ilha é aborrecida e não há muito que fazer. Eu digo que vão porque os casinos estão ali. Se não existissem, as pessoas arranjavam outras coisas com as quais se desaborrecer.

No bar, cheio de gente a assistir a um combate de boxe pela tv, passava-se uma cena que, embora eu classifique de indescritível, é boa de mais para que não a tente descrever: um jogo de dominó violento. Sim, o jogo que os velhotes de todo o mundo jogam pacificamente ao fim da tarde, à sombra de uma árvore num jardim público, disputado por quatro matulões zangados a uma rapidez alucinante, que batiam violentamente com as peças na mesa de cada vez que as jogavam. Devo ter ficado dez minutos com cara de parva a olhar para a situação, e quando os rapazes me chamaram para sair o tipo mais bruto de todos tinha acabado de bater com uma peça na mesa e dado um soco no ombro do jogador do lado, dizendo-lhe alguma coisa agressiva, que não compreendi. Não consegui evitar e dei uma gargalhada. E continuei a rir enquanto saía, sem conseguir deixar de olhar para eles. Subitamente sereno, o brutamontes-mor olhou para mim com um sorriso e perguntou «do you like this?».

«Yes, very much!»

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