terça-feira, 1 de maio de 2012

São Luis, Maranhão, Brasil, 01-05-2012

Querido diário,

Hoje passei a manhã a defender o direito dos capitalistas e do grande capital de explorar as classes operárias, trabalhadoras, laboriosas e unidas baixando-lhes o preço das compras para metade. Foi extenuante, como podes imaginar; por isso depois do almoço fui dormir uma longa e reparadora sesta.

Quando acordei quis ir ao mercado da Praia Grande comprar três reais de caju e beber uma cerveja; mas o mercado - cedendo sem dúvida à pressão das massas populares (a qual se manifestou pela total ausência de populares) - estava fechado. Com a proverbial e conhecidíssima e reconhecida capacidade de adaptação que nós, os grandes capitalistas, temos optei por comprar cinco reais de camarão empanado e beber a cerveja na Tia Dica.

Agora espero tranquilo a hora de jantar e da punição das massas furiosas. A opressão que sentiram foi tão, mas tão violenta... empurrões, filas de três horas, os supermercados a ter de fechar mais cedo... uma violência. Aqui no Brasil não houve nada disso. As lojas que quiseram abrir abriram, as outras fecharam; e não houve promoções.

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É pena que os holandeses não tenham ficado com isto. Mas nos finais do século XIX, depois de a termos construído. Ambos os países teriam ganho: nós porque construímos, eles porque teriam preservado.

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O Odeon "Sabor de Arte" é uma versão pobre, indigente, miserável, terceiro-mundista do Pavilhão Chinês. Dizer que é um dos melhores locais (para mim, claro) de São Luís dá uma ideia aproximada do descalabro.

Caipirinha - "Não tá saindo";
Água Tónica - "Não temos";
Copos de vidro - "Não há";
Copos de plástico, mas grandes - "Não"... O olhar desolado do rapaz pedia mais desculpa do que qualquer pedido de desculpa.

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Gosto destas noites quentes, abafadas, opressivas, cheias de promessas que o calor desmente imediatamente: transpiro como se o rum saísse directamente pelos poros, sem passar por mais órgão nenhum.

Algo me diz que amanhã vou ter dores de cabeça [não tenho].

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É chocante pensar no Pavilhão Chinês quando se entra no Odeon. É uma das raras associações de ideias que mereceria prisão.

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Às vezes tento pôr-me na cabeça de um destes jovens e sentir o que sentem quando descobrem a Europa. É um salto quântico.

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Havia um concerto de reggae pela jovem artista local Tânia. No jornal precisava que era uma recriação, e não uma simples interpretação.

Devia ter começado às dez da noite. Começou à meia-noite e meia. O bar estava cheio a abarrotar; as filas para as bebidas foram decerto organizadas pelo Exército da Salvação; as pequenas eram giras e totalmente desinteressantes. Fui comer um espeto de frango no carrinho à frente da discoteca que me envenena as noites de fim-de-semana e vim-me embora.

A recriação não parecia má de todo, de passagem (ou de saída) se diga.

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