quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Barcelona, Catalunha, Espanha, 28-11-2012

Os dias foram difíceis; mas não é por isso - antes ao contrário - que não se tomam decisões. São para tomar e executar logo, sem muito tempo perdido em lamentações nem arrepanhar de cabelos (dos quais de qualquer forma tenho cada vez menos).

Se no R. B., barco para o qual tínhamos tudo e mais alguma coisa a favor não conseguimos embarque não valia a pena insistir muito mais. Ou seja: vamos de avião para Antigua. Com muita pena e alguma bagagem, pouca, felizmente.

Vamos por um caminho complicado: Barcelona, Paris, Martinique. Ivan Illich, um  dos raros intelectuais de esquerda que respeito [acabo de encontrar uma citação dele que me fez pensar na reacção histérica a Isabel Jonet: "In a consumer society there are inevitably two kinds of slaves: the prisoners of addiction and the prisoners of envy"] escreveu um livro chamado Energy and Equity no qual fala, entre outras coisas, da relação entre o poder e a energia. Eu penso em dinheiro versus tempo. Tempo é dinheiro? Sem dúvida. Mas a relação entre eles também é inversa: quanto menos dinheiro, mais tempo - para ir de um lado para outro, por exemplo.

Não sei se gastámos mais ou menos energia vindo de avião para Barcelona, apanhando um comboio nocturno para Paris (qual a energia de um quarto de hotel que se poupa?), avião para a Martinique - o bilhete é mais barato do que para Antigua, e no meu Marin, onde isto tudo começou, ou arranjo um job ou uma boleia para "a minha casa", por enqanto ainda com aspas.

De que gastamos muito mais tempo há, em contrapartida, poucas dúvidas.

E aventuras. Hoje roubaram-me o saco do computador; pouco tempo depois o senhor que mo roubou devolveu-mo - na pressa não reparou que a máquina estava à minha frente na mesa e não na mochila (não me disse isso, claro. Balbuciou outra coisa qualquer e desapareceu). Foi simpático da parte dele, mas não me impediu de o assinalar a dois polícias que pouco depois passaram por ali.

Enquanto isso, eu tentava lidar com a Air Caraïbes, que num anseio anulou o meu bilhete pois fora pago com um cartão de crédito que não era meu. É simpático para o dono (neste caso a dona) do cartão; mas chato para mim - gastei o saldo internacional do telefone, a bateria do computador e a bateria do telefone (por esta ordem) a tentar repor a reserva, não fosse a dona do cartão ter de ir sozinha para a Martinique e eu por aqui ficar sozinho.

Tudo se compôs, claro - os problemas acabam sempre por se resolver, se não não seriam problemas - e tivemos um bónus: conseguimos uma tarifa especial no comboio da noite.

O prémio disto foi: um dia esplêndido em Barcelona. De manhã no Mc da estação de Sants (por causa do wifi gratuito); à tarde no restaurante da estação de França (por causa do wifi gratuito, da beleza e conforto do local, para carregar baterias - literais - e para escrever entretanto).

É realmente lindo, o sítio (esta fotografia está simultaneamente esplêndida e realista; estas também). Quando saímos do aeroporto viemos para aqui. À noite o Restaurante Station Barcelona transforma-se em piano-bar, café-concerto, cabaret, dependendo dos dias; ontem foi dia de tango, por exemplo, e estavam bastantes pares a dançar. Era bonito, parecia que estávamos não a caminho de Paris e à procura de um quarto mas no meio de uma viagem no tempo, à espera do coche que nos ia levar para o palace mais bonito do século passado. É um sítio para casais adúlteros, desses que sonham deixar tudo para trás e começar de novo no outro extremo da linha (a linha não tem extrems, mas isso é outra história).

(Acabámos num quarto bastante aceitável a vinte euros, pequeno almoço e IVA incluídos.)

Não vou ter tempo para mostrar Paris: um caso de proporção directa entre dinheiro e tempo.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Palma de Maiorca, Baleares, Espanha, 26-11-2012

Dias difíceis. Não sou muito dado a "já-estive-aquis-e-alis", mas um dia gostava de fazer uma lista dos sítios onde já fui feliz, infeliz, onde já tive fome, onde já não-tive dinheiro, onde já fui rei. Seria um mapa muito mais interessante.

sábado, 24 de novembro de 2012

Palma de Maiorca, Baleares, Espanha, 24-11-2012

A ideia era só escrever quando houvesse boas notícias; mas não as há. Só más e muito más, em todas as frentes. O R. B. escolheu outros tripulantes para a travessia e há cada vez menos barcos em Palma. As perspectivas de atravessar o Atlântico de barco são quási nulas.

As duas ou três últimas semanas foram difíceis: doença, hospital (por meia dúzia de horas, só; mas foram duras, as horas). E agora isto. Desta vez não posso correr com o tempo; e pôr-me de capa tão pouco. Há que continuar a marchar. Esperam-me uns dias largos de bolina, dias sem vento ou com ele a mais. Mas não podemos parar.

Sobretudo parar em Palma. Estou farto da cidade até à ponta dos cabelos e ela não tem culpa nenhuma - continua a cidade afável e bonita de há dois meses e meio. Mas os sítios onde estamos não são o que são, são o que nós somos, ou como nós estamos. "Não vemos as coisas como são, vêmo-las como somos", escreveu Anaïs Nin; ou como estamos, talvez seja mais exacto.

Só penso em Antigua. A ver se desta vez é tão bom como da outra; a ver se é lá que um dia terei um país. Algo me diz que não, que ainda não é desta. Mas é preciso ir ver.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Palma de Maiorca, Baleares, Espanha, 14-11-2012

A greve em Palma sentiu-se pouco: dois senhores a apitar numa esquina, acompanhados por uma senhora sem apito, e um "piquete ciclista" a percorrer as ruas; tudo funcionava, incluindo os semáforos. Pelo menos o tudo que usamos: lojas, o bar Gibson - actualmente o nosso escritório -, o mercado onde comprámos sobrasada para logo à noite e o supermercado de onde gentilmente,  a um preço bastante competitivo, vieram as duas garrafas de cava (os semáforos eram uma piada; só os usamos para atravessar a rua. Fazem-me lembrar aquela parte dos funcionários públicos - longe de mim pensar que é a maioria - que não dá um passo nem os deixa dar a quem quer andar).

De resto cá vamos andando, de quase em quase: quase um trabalho na Tailândia para a Tatiana, quase um transporte de Inglaterra para a Grécia, quase quase quase. Quantos quase são precisos para fazer um sim? Acho que já excedemos tudo o que é razoável, o tipo (ou a senhora) que controla a matemática da vida devia prestar-nos um bocadinho mais de atenção.

A verdade é que já não estamos em Palma; as nossas mentes estão longe, em Antigua, em St. Martin, na Martinique, nos Deux Pitons, nas Grenadines, em Grenada, tão verde e tao bonita; em Bequia, no Captain Mack's Bar and Galley ou no bar do Lucífer, que me perguntava quanto tinha pago a última vez pelas lagostas para saber qual o preço hoje (e, abençoado seja, quando lhe pedíamos um rum nos punha uma garrafa cheia na mesa e cobrava o que faltava - às vezes faltava a garrafa toda, vá lá saber-se porquê).

E não são os edifícios de Gaudi contíguos ao bar que me trazem de volta. 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Palma de Maiorca, Baleares, Espanha, 12-11-2012

Mudámos outra vez de casa; agora moramos perto da Plaça de Frederic Chopin. Não foi a música que nos trouxe, claro: foi o preço, bastante mais baixo do que a casa de A., e a localização. Estamos de novo no centro da cidade.

É marginalmente melhor estar encalhado no centro de uma cidade do que na sua periferia.

Há menos trabalho em Palma, e mais, muito mais gente à procura do que é habitual. De momento a única esperança mais ou menos concreta que temos é a de uma travessia no R. B., um nome feio para um barco lindo. Mas o capitão só chega no fim desta semana, e até lá não passará de uma esperança.

O senhor que me queria contratar para a Costa Rica adiou o projecto para Abril. Não sei onde estarei em Abril. A verdade é que quando estou sem trabalho sonho com um trabalho fixo; e quando estou embarcado fico feliz por o trabalho ser temporário. Nestes barcos passa-se muito tempo em terra, e apesar de tudo navega-se mais em freelance. Mas também se encalha mais. Não somos os únicos - o consolo é parco, mas é algum.

A Plaça Chopin também é de parco consolo - não é bem uma praça, é mais uma rua de peões com árvores de ambos os lados e bancos entre elas, onde à noite por vezes me sento para ter acesso à net.

Depois vou para casa tossir, ouvir a Tatiana (e toda a gente com quem falo, verdade seja dita) dizer-me que tenho de ir ao médico, tomar uma colherada de xarope e dormir. Os sonhos são maus, mas são melhores do que estar acordado.

A próxima vez que me apareça um trabalho fixo aceito-o, prometo; enfim, pelo menos prometo que pensarei nisso a sério, mais de cinco segundos.

sábado, 10 de novembro de 2012

Línguas e pátrias, Palma, 10-11-2012

G. pôs-se a ler "O Principezinho" no sofá. Olhava, aluado, o tecto como se fosse o céu e evadia-se nele. C. entrou na sala e perguntou-lhe: «O que estás a fazer?» Ele respondeu: «O atum! Ahhhh, estou a ler...» O livro estava ao contrário; G. pensava no que ia fazer para o jantar.

Noutra ocasião, C. decidiu rever com G. algumas conjugações dos verbos em castelhano. Há, no castelhano, um tempo verbal chamado "pretérito pluscuamperfecto". G. tinha a certeza de que de onde ele vinha, lá na Argentina, o nome era "Juan Luis Perfecto". Um senhor tempo verbal.

Estas foram duas das histórias que nos puseram a rir à gargalhada no jantar de despedida de C., num bar/tasca chamado Molta Barra, com um Pa Amb Oli delicioso e uma tapa de chouriços cozinhados em sidra a que chama "políticos a la sidra", vá lá saber-se porquê. C. emigrou para o Canadá, onde tem os filhos e, ao que parece, o futuro. «A Europa morreu», dizia-me H. no outro dia. Senti isso mais em Palma do que noutro sítio qualquer. Da gente estrangeira que aqui conheci, só uma pessoa quer ficar (e é porque vive em Inglaterra, onde o clima se pode tornar mais detestável que qualquer crise, real ou anunciada).

G. é um miúdo doce que partilhou a casa com C. e N. antes de nós. Fez uma despedida comovente a C.: como se esqueceu dos presentes no outro lado da ilha, colocou cartazes nas escadas do prédio dizendo piadas e ternuras. Como todos os argentinos, usa muito a expressão «que liiiindo». É um povo que já me está mais no coração do que a maioria dos cardiologistas aconselha.

Palma está cheia de argentinos. Só S., um argentino adorável que conhecemos em Antígua, tem uns 20 amigos argentinos por aqui. Numa noite conhecemos uns seis dos seus amigos, todos empregados de bares e restaurantes, todos simpáticos e sorridentes, quase todos giros, com buenos aires. E todos longe do seu país, como Gu., que o detesta e não cede à hipocrisia de dizer "que o adora mas não pode viver nele". Eu não sei, já, se gosto de Portugal. Não gosto de que os meus amigos estejam desempregados, ou que não possam mudar de emprego porque de certeza não encontrarão outro. Não gosto de que os meus amigos tenham de deixar um país onde gostam de estar porque não conseguem, nele, viver como viveriam noutro. As razões pelas quais deixei Portugal foram apatrióticas, mas voltar cada vez mais me parece um esforço, uma decisão difícil. Tenho saudades desses amigos e -- muitas -- da minha família. Mas não tenho do resto. Além de que ando a reler Eça de Queirós. Se me perguntam o que leio respondo, simplesmente, «Portugal».

Talvez haja uma explicação para não ter saudades: «O essencial é invisível aos olhos»; o atum, se não há, também.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Palma de Maiorca, Baleares, Espanha, 05-11-2012

Dizem que a vida é assim: uma coisa mais ou menos caótica (embora ordenada, de alguns pontos de vista -- nascimento, vida, morte) e imprevisível, como acontece quando por exemplo ouvimos um tema do Chick Corea, cheio de vento, borboletas, fantasmas, chuva e sol, ondas e fogos de artifício, choros de viúvas e de recém-nascidos, e por aí em diante até não sabermos se aquilo é triste ou alegre ou se é só, passe a redundância, a vida como dizem que ela é, uma coisa mais ou menos caótica, embora ordenada de alguns pontos de vista, como o nascimento, a vida ou a morte, mais certas do que dois e dois serem cinco.

De maneira que estou outra vez sem trabalho e isso dá-me cabo do juízo. Não tenho jeito para a instabilidade. Felizmente, alguma estabilidade restabelece-se: o Luís, ao meu lado, fala mal da esquerda portuguesa, sinal de que está a recuperar da gripe (graças a Deus, não sabia, como se ouvisse um tema do Chick Corea, se havia de rir com a sua infantilidade tão surpreendentemente tardia ou de chorar com a fragilidade que me assustou tanto e me fez temer-lhe pela vida, apesar de ter sido só uma gripe. Adenda importante: o Luís não é piegas, insulta a tosse com os pulmões que lhe restam, enraivece-se com a doença com o ânimo que ainda lhe não lhe escapa, chama-lhe puta, pífia, e depois sucumbe à exaustão como uma criança birrenta ao sono, ou eu às preocupações).

O melhor que uma pessoa pode fazer é render-se, li não sei onde, ou disse-me não sei quem. «Tenta mudar o que dizes a ti própria; em vez de dizeres "eu não posso ser assim" ou "as coisas não podem ser assim", diz "eu sou assim" ou "as coisas são assim" e procura força para aceitar o facto de as coisas serem assim». disse-me L. A verdade é essa: as coisas são assim e não posso, por agora, fazer muito mais para que deixem de o ser. Ora vejamos: dockwalking, responder a dezenas de anúncios sem sequer ter direito a um "não, obrigada", comer sempre em casa gastando o mínimo possível, passar um modesto 25.º aniversário cujos únicos luxos foram ter saúde, amor do que me estava perto e dos que me estavam longe (e que chegou em força por ondas electromagnéticas, abençoadas sejam) e um bolo de chocolate de peso, tamanho e preço pecaminosos. 

Paciência. É das qualidades que mais me faltam e das de que mais preciso. N., o nosso ex-senhorio (é verdade, deixámos a rua mais bonita de Palma hoje), tem-na de sobra. Ontem passou quatro horas a limpar a bicicleta de três mil euros que pesa menos dez vezes do que eu (que, na contrapartida do dinheiro que tenho, cada vez peso mais), passa outras tantas horas a arreglar os móveis que decora e a tocar batuques. Gabo-lha. E a bondade, e a organização, e o bom aspecto. Gabo-lhe tudo, até a estranheza de me tentar convencer de que o furacão Sandy foi provocado para que Obama ganhasse as eleições, entre outras teorias da conspiração. Foi bom viver em sua casa. Agora, à maneira caótica do mundo, estamos num limbo chamado "bairro acima da Plaza de España", numa casa agradável que partilhamos com a russa A. e o seu gato Casper (na verdade, uma das razões pelas quais respondemos ao anúncio foi o sentido de humor de uma das regras da casa: «No cat killing»).

Amanhã ou depois decidimos o que fazer. Ou a vida decide por nós. Não tenho jeito para a instabilidade. Paciência.

domingo, 4 de novembro de 2012

Palma de Maiorca, Baleares, Espanha, 04-11-2012

Não foram dois ou três dias; vai no sétimo, e só agora começa a dar sinais de abrandar. Mas tão pouco foi de mata-caballos, como diz N., o senhorio: pelo menos não me matou.

Mas abalou-me muito. Foi forte, grossa, traiçoeira, viciosa, brutal, repelente. Pôs-me quase de rastos - na quinta e na sexta-feiras o quase é dispensável - e deixou-me fraco, exausto, partido.

Mas teve uma vantagem: descobri as virtudes miraculosas do chá de cebola contra  a tosse. Até hoje nada tinha visto de melhor. E descobri as qualidades anti-tudo e pró-vida da Tatiana. Enfim, essas já as conhecia, só nunca as tinha visto postas em prática com tanto carinho e eficácia.

De maneira agora emerjo de uma semana por assim dizer difícil. Só não o foi mais porque ao quase de quarta-feira - que ainda não se apagou - um outro se veio juntar. Não se excluem, e seria justo que nos caíssem os dois; mas o mundo não costuma ter achaques de generosidade desta dimensão e com uma das duas já nos satisfaríamos e muito.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Palma de Maiorca, Baleares, Espanha, 01-11-2012

E pela primeira vez em muito tempo tenho uma gripe; uma daquelas teimosas. Já por duas vezes me levantei, e por duas vezes ela me mandou de volta para a cama. Odeio estar doente. Só me apetece estrangular os vírus todos um a um, afogá-los em chá de limão, besuntá-los de mel, engrossá-los com vinho tinto.

Triste maneira de celebrar o quarto de século da Tatiana, que o festeja hoje, coitada; mas enfim, o século tem muitos quartos, muitas salas, corredores, cozinhas, caves e sótãos. Temos muito tempo para explorar algumas dessas divisões.

Ao menos as escapadelas serviram para algumas coisas boas - uma das quais descobrir o Bar Dia, um prodígio de qualidade e preços baixos em plena Llotja, o quarteirão mais turístico de Palma; outra foi confirmar o Ca na Chinchilla como uma grande bodega - em itálico para não haver confusões. Fomos lá ontem para celebrar a partida do G. e da A. Vão para Antigua via Polónia (A. é polaca). Em breve seremos nós, espero; e que a nossa festa seja tão agradável como a deles.

É uma via crucis, mas pelo menos as estações são agradáveis.

Os nossos amigos vão-se todos embora; no final do mês que hoje começa pouca gente haverá que conheçamos. E poucos barcos, também. Temos duas semanas no máximo para encontrar um embarque. Felizmente, após uns dias de interrupção, reapareceram alguns quase. Gostava de confirmar um e depois ir a Portugal passar meia dúzia de dias. Parece-me um plano sensato e espero que o ou os tipos que coordenam as coisas lá por cima partilhem esta opinião. Se é que há alguém a coordenar isto, coisa em que nunca acreditei e cada vez menos.

Visto de longe e quase só pelos blogs Portugal é giro. Parece composto por bandos de galinhas que ouvem um grito num lado e fogem apavoradas, cacarejando muito, para o outro sem sequer tentar perceber o que foi esse grito; depois cheira a milho e lá vão todas, cacarejando muito outra vez, ver se lhes calha um grão. Andam sempre juntas, cacarejam sempre muito, não conseguem ir mais fundo do que o buraco que o bico faz no chão quando esgravatejam quaquer coisa para comer. Permanentemente entre gritos que as apavoram e  milho que as atrai.

E a cacarejar muito, sempre, ininterruptamente, indignadas.

De modo é assim: enterrar a gripe, arranjar um embarque e ir a Lisboa. Acordar no mar, que tanta falta faz. Pode começar já, por favor.