Os dias foram difíceis; mas não é por isso - antes ao contrário - que não se tomam decisões. São para tomar e executar logo, sem muito tempo perdido em lamentações nem arrepanhar de cabelos (dos quais de qualquer forma tenho cada vez menos).
Se no R. B., barco para o qual tínhamos tudo e mais alguma coisa a favor não conseguimos embarque não valia a pena insistir muito mais. Ou seja: vamos de avião para Antigua. Com muita pena e alguma bagagem, pouca, felizmente.
Vamos por um caminho complicado: Barcelona, Paris, Martinique. Ivan Illich, um dos raros intelectuais de esquerda que respeito [acabo de encontrar uma citação dele que me fez pensar na reacção histérica a Isabel Jonet: "In a consumer society there are inevitably two kinds of slaves: the prisoners of addiction and the prisoners of envy"] escreveu um livro chamado Energy and Equity no qual fala, entre outras coisas, da relação entre o poder e a energia. Eu penso em dinheiro versus tempo. Tempo é dinheiro? Sem dúvida. Mas a relação entre eles também é inversa: quanto menos dinheiro, mais tempo - para ir de um lado para outro, por exemplo.
Não sei se gastámos mais ou menos energia vindo de avião para Barcelona, apanhando um comboio nocturno para Paris (qual a energia de um quarto de hotel que se poupa?), avião para a Martinique - o bilhete é mais barato do que para Antigua, e no meu Marin, onde isto tudo começou, ou arranjo um job ou uma boleia para "a minha casa", por enqanto ainda com aspas.
De que gastamos muito mais tempo há, em contrapartida, poucas dúvidas.
E aventuras. Hoje roubaram-me o saco do computador; pouco tempo depois o senhor que mo roubou devolveu-mo - na pressa não reparou que a máquina estava à minha frente na mesa e não na mochila (não me disse isso, claro. Balbuciou outra coisa qualquer e desapareceu). Foi simpático da parte dele, mas não me impediu de o assinalar a dois polícias que pouco depois passaram por ali.
Enquanto isso, eu tentava lidar com a Air Caraïbes, que num anseio anulou o meu bilhete pois fora pago com um cartão de crédito que não era meu. É simpático para o dono (neste caso a dona) do cartão; mas chato para mim - gastei o saldo internacional do telefone, a bateria do computador e a bateria do telefone (por esta ordem) a tentar repor a reserva, não fosse a dona do cartão ter de ir sozinha para a Martinique e eu por aqui ficar sozinho.
Tudo se compôs, claro - os problemas acabam sempre por se resolver, se não não seriam problemas - e tivemos um bónus: conseguimos uma tarifa especial no comboio da noite.
O prémio disto foi: um dia esplêndido em Barcelona. De manhã no Mc da estação de Sants (por causa do wifi gratuito); à tarde no restaurante da estação de França (por causa do wifi gratuito, da beleza e conforto do local, para carregar baterias - literais - e para escrever entretanto).
É realmente lindo, o sítio (esta fotografia está simultaneamente esplêndida e realista; estas também). Quando saímos do aeroporto viemos para aqui. À noite o Restaurante Station Barcelona transforma-se em piano-bar, café-concerto, cabaret, dependendo dos dias; ontem foi dia de tango, por exemplo, e estavam bastantes pares a dançar. Era bonito, parecia que estávamos não a caminho de Paris e à procura de um quarto mas no meio de uma viagem no tempo, à espera do coche que nos ia levar para o palace mais bonito do século passado. É um sítio para casais adúlteros, desses que sonham deixar tudo para trás e começar de novo no outro extremo da linha (a linha não tem extrems, mas isso é outra história).
(Acabámos num quarto bastante aceitável a vinte euros, pequeno almoço e IVA incluídos.)
Não vou ter tempo para mostrar Paris: um caso de proporção directa entre dinheiro e tempo.
Se no R. B., barco para o qual tínhamos tudo e mais alguma coisa a favor não conseguimos embarque não valia a pena insistir muito mais. Ou seja: vamos de avião para Antigua. Com muita pena e alguma bagagem, pouca, felizmente.
Vamos por um caminho complicado: Barcelona, Paris, Martinique. Ivan Illich, um dos raros intelectuais de esquerda que respeito [acabo de encontrar uma citação dele que me fez pensar na reacção histérica a Isabel Jonet: "In a consumer society there are inevitably two kinds of slaves: the prisoners of addiction and the prisoners of envy"] escreveu um livro chamado Energy and Equity no qual fala, entre outras coisas, da relação entre o poder e a energia. Eu penso em dinheiro versus tempo. Tempo é dinheiro? Sem dúvida. Mas a relação entre eles também é inversa: quanto menos dinheiro, mais tempo - para ir de um lado para outro, por exemplo.
Não sei se gastámos mais ou menos energia vindo de avião para Barcelona, apanhando um comboio nocturno para Paris (qual a energia de um quarto de hotel que se poupa?), avião para a Martinique - o bilhete é mais barato do que para Antigua, e no meu Marin, onde isto tudo começou, ou arranjo um job ou uma boleia para "a minha casa", por enqanto ainda com aspas.
De que gastamos muito mais tempo há, em contrapartida, poucas dúvidas.
E aventuras. Hoje roubaram-me o saco do computador; pouco tempo depois o senhor que mo roubou devolveu-mo - na pressa não reparou que a máquina estava à minha frente na mesa e não na mochila (não me disse isso, claro. Balbuciou outra coisa qualquer e desapareceu). Foi simpático da parte dele, mas não me impediu de o assinalar a dois polícias que pouco depois passaram por ali.
Enquanto isso, eu tentava lidar com a Air Caraïbes, que num anseio anulou o meu bilhete pois fora pago com um cartão de crédito que não era meu. É simpático para o dono (neste caso a dona) do cartão; mas chato para mim - gastei o saldo internacional do telefone, a bateria do computador e a bateria do telefone (por esta ordem) a tentar repor a reserva, não fosse a dona do cartão ter de ir sozinha para a Martinique e eu por aqui ficar sozinho.
Tudo se compôs, claro - os problemas acabam sempre por se resolver, se não não seriam problemas - e tivemos um bónus: conseguimos uma tarifa especial no comboio da noite.
O prémio disto foi: um dia esplêndido em Barcelona. De manhã no Mc da estação de Sants (por causa do wifi gratuito); à tarde no restaurante da estação de França (por causa do wifi gratuito, da beleza e conforto do local, para carregar baterias - literais - e para escrever entretanto).
É realmente lindo, o sítio (esta fotografia está simultaneamente esplêndida e realista; estas também). Quando saímos do aeroporto viemos para aqui. À noite o Restaurante Station Barcelona transforma-se em piano-bar, café-concerto, cabaret, dependendo dos dias; ontem foi dia de tango, por exemplo, e estavam bastantes pares a dançar. Era bonito, parecia que estávamos não a caminho de Paris e à procura de um quarto mas no meio de uma viagem no tempo, à espera do coche que nos ia levar para o palace mais bonito do século passado. É um sítio para casais adúlteros, desses que sonham deixar tudo para trás e começar de novo no outro extremo da linha (a linha não tem extrems, mas isso é outra história).
(Acabámos num quarto bastante aceitável a vinte euros, pequeno almoço e IVA incluídos.)
Não vou ter tempo para mostrar Paris: um caso de proporção directa entre dinheiro e tempo.