Ao fim do dia vamos passear o cão. Escolhemos um sítio sempre diferente do campo genebrino e damos um longo passeio.
Hoje, pela primeira vez, le fond de l'air não estava quente; ainda não estava frio, mas já não estava quente. Não sei se foi à minha avó se nos Açores, a alguém que não recordo, que ouvi pela primeira vez "primeiro de Agosto primeiro de inverno". Hoje é dia sete, e já houve o primeiro sinal do fim do verão. Dias quentes virão de novo, dias de sol radioso, dias estivais; mas o inverno já pôs a ponta do pé na porta e ela não se fechará mais.
O cão - na realidade uma cadela, Leeloo de sua graça - adora os passeios. É bonita, salta e corre com leveza e elegância. É muito jovem ainda, persegue ratos imaginários (ou pelo menos parecem: nunca vi nenhum), fareja notícias invisíveis, anda às voltas em trajectos cuja lógica nos escapa completamente.
Nós falamos do presente; muito raramente do passado. Alguns passados parece terem sido enterrados vivos, mas não sofrem por isso.
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H. recupera com toda a força dos seus vinte indomáveis anos. Hoje tivemos uma boa notícia: ao contrário do que pensávamos (e nos tinha sido dito) não ia em excesso de velocidade. Vão ser três meses aborrecidos, com um colete, mas vão ser três meses, só. Se forem mais, será pouco mais. Talvez mantenha uma dor ocasional, uma pequena lembrança de que não é imortal. Não sei se é demasiado cedo - essa lição chegou-me muito mais tarde, e aos bocadinhos - mas tem, e temos, pelo menos a sorte de poder viver para a lembrar.
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Nunca se está verdadeiramente no campo, em Genève. Salvo raras excepções há sempre uma aldeia, uma casa, uma estrada, uma auto-estrada à vista. Apesar disso consegue ser bonito, arrumado, limpo e sobretudo calmo, que ser calmo é a função do campo.
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Um passado enterrado vivo não pode ser desenterrado, sob pena de morrer. É mais uma das coisas que se aprendem no campo, mesmo que já se o soubesse há muito tempo. Muito tempo: é preciso muito tempo para o aprender; e muitos passados.
Hoje, pela primeira vez, le fond de l'air não estava quente; ainda não estava frio, mas já não estava quente. Não sei se foi à minha avó se nos Açores, a alguém que não recordo, que ouvi pela primeira vez "primeiro de Agosto primeiro de inverno". Hoje é dia sete, e já houve o primeiro sinal do fim do verão. Dias quentes virão de novo, dias de sol radioso, dias estivais; mas o inverno já pôs a ponta do pé na porta e ela não se fechará mais.
O cão - na realidade uma cadela, Leeloo de sua graça - adora os passeios. É bonita, salta e corre com leveza e elegância. É muito jovem ainda, persegue ratos imaginários (ou pelo menos parecem: nunca vi nenhum), fareja notícias invisíveis, anda às voltas em trajectos cuja lógica nos escapa completamente.
Nós falamos do presente; muito raramente do passado. Alguns passados parece terem sido enterrados vivos, mas não sofrem por isso.
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H. recupera com toda a força dos seus vinte indomáveis anos. Hoje tivemos uma boa notícia: ao contrário do que pensávamos (e nos tinha sido dito) não ia em excesso de velocidade. Vão ser três meses aborrecidos, com um colete, mas vão ser três meses, só. Se forem mais, será pouco mais. Talvez mantenha uma dor ocasional, uma pequena lembrança de que não é imortal. Não sei se é demasiado cedo - essa lição chegou-me muito mais tarde, e aos bocadinhos - mas tem, e temos, pelo menos a sorte de poder viver para a lembrar.
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Nunca se está verdadeiramente no campo, em Genève. Salvo raras excepções há sempre uma aldeia, uma casa, uma estrada, uma auto-estrada à vista. Apesar disso consegue ser bonito, arrumado, limpo e sobretudo calmo, que ser calmo é a função do campo.
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Um passado enterrado vivo não pode ser desenterrado, sob pena de morrer. É mais uma das coisas que se aprendem no campo, mesmo que já se o soubesse há muito tempo. Muito tempo: é preciso muito tempo para o aprender; e muitos passados.
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