quarta-feira, 25 de abril de 2012

São Luís, Maranhão, Brasil, 25-04-2012

Ia o 25 de Abril passando se eu lhe prestar a minha singela homenagem. Vou para o inferno, isso eu sei; mas prefiro o inferno da minha infância ao dos adoradores de sol e outras religiões. Para aquele faço tudo o que posso para ter a certeza de que vou; não poupo esforços. Para este prefiro não tentar os meus anjos da guarda.

Na Escola Náutica os chefes da Associação de Estudantes um dia convocaram-me para uma reunião; não me lembro dos pormenores, mas sei que a agenda era o facto de eu ser, frequentemente, o único voto contra nas AGE (Assembleia Geral de Estudantes, para quem vivesse noutro planeta nessa altura, ou ainda não vivesse de todo no nosso). "E isso impede-nos de ter votações por unanimidade".

Lamentei imenso; fui discreta e amigavelmente avisado de que as consequências de tal traição à classe não seriam sempre simples palavras. Continuei a lamentar, e  a votar como achava que devia votar; isto é, contra.

Verdade seja dita que não houve consequências nenhumas, nem verbais nem manuais.

Aqui fica portanto a minha singela homenagem ao 25 de Abril. Não lhe renego as vantagens, mas prefiro o outro 25, um ano e sete meses mais tarde.

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São onze da noite e na rua o pagode vai farto (pagode é o termo que designa estes momentos de música de rua, ou qualquer festividade semelhante - música aos gritos a sair de uma parede de som no bar ao lado da banda que toca na rua, por exemplo). Felizmente os únicos barulhos que me impedem de dormir são os que vêm de dentro. Com o de fora pode o meu sono muito bem.

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A minha filha Lena chegou ontem, bela e imperial. Está a fazer um voluntariado de dois meses na Prefeitura de Recife, num lar para miúdos de rua. Não me parece convencida a 100% com a experiência. Um dia dir-lhe-ei que a maioria dessas estruturas serve para apaziguar a má consciência das pessoas que provocam a situação; mas para os pobres são como tratar uma perna partida com aspirina: pode enganar a dor, mas sem gesso a perna ficará torta para sempre.

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As coisas no B. avançam devagar. O Brasil (enfim, o Nordeste, nunca é de mais repeti-lo) pertence àquele grupo de coisas, pessoas, países que só têm duas velocidades: devagar e pára. Às vezes há uma terceira, a marcha-atrás; mas como também é lenta a gente vai levando.

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Hoje G., um skipper que trabalha ocasionalmente para o Sérgio levou-nos a dar um passeio de carro por São Luís. Fiquei a saber um pouco da história da cidade; e como sempre perplexo com a capacidade que os brasileiros têm de amar o seu país. São o simétrico dos portugueses: eles são incapazes de ver o que o Brasil tem de mau; nós o que Portugal tem de bom.

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Assim vão os meus últimos dias em São Luís. Como de resto devem ser os últimos dias em qualquer lugar: com a certeza de que ficar não acrescenta nada ao que já fizemos, e diminui ao que vamos fazer.

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