domingo, 2 de dezembro de 2012

Le Marin, Martinique, Antilhas Francesas, 01-12-2012

Chegámos em aviões separados. O site da Air Caraïbes permitiu-nos fazer uma reserva para a Corsair e a que fizemos ao balcão era mesmo para a Air Caraïbes, num voo que partia praticamente à mesma hora. Depois do pânico inicial (e se o meu lugar afinal não está reservado? E se um dos aviões cai?) estabeleceu-se uma certa calma: duas horas de espera, por conta de uma avaria no avião, à conversa com S., um jovem chef que faz a época de Inverno num restaurante próximo de Fort-de-France e que lembra com saudade um bacalhau à Brás que comeu, feito pela a avó de um dos seus companheiros de casa em Montpellier.

Apesar do atraso e do cansaço de uma noite nos assentos superreclináveis (o tanas) do trem-hotel Barcelona-Paris, o meu voo foi magnífico. Passei-o sem dormir, a deliciar-me com o sistema Horizon, através do qual assisti a três filmes (Le Magasin des Suicides, uma animação genial e divertida, The Last King of Scotland e Mystic River, simplesmente brilhantes) e me pus in the mood, com um álbum de Bob Marley e algum zouk de boa qualidade (coisa que me tinham assegurado que não existia). Mais de metade da classe turística jogava ao Quem Quer Ser Milionário? no pequeno ecrã, a outra metade dormia. Houve gargalhada geral quando o comandante anunciou a temperatura na ilha. O sol, já bem posto àquela hora, deixou a beira-mar de um azul fluorescente do qual já não me lembrava.

À chegada, esperei meia hora pelas malas, à boa maneira dos trópicos. Troquei contactos com S. e encontrei-me com o Luís, que me esperava tranquilamente (o que me surpreendeu, pois chegara duas horas antes) no único cibercafé do aeroporto. Depois de percebermos que a Martinique não é bem Saint Martin, ou seja, não se alugam carros sem cartões de crédito de plafonds inalcançáveis para pobretanas como nós, fomos saber os preços dos táxis. 70 euros por 38 quilómetros, mesmo depois de  regatear, pareceu-nos imoral. De sacos às costas, fomos para a saída do parque de estacionamento pedir boleia (estranhamente, a sugestão foi minha; afinal, estou a aprender a ter 25 anos). Um senhor muito gentil desviou-se do seu caminho e, em vez de ir directo ao Lamentin, onde vive – uma localidade muito próxima do aeroporto – levou-nos à capital, a uns 15 quilómetros dali. Agradecemos-lhe efusivamente os 30 euros que nos poupou.

Chegados a Fort-de-France, e como não podia deixar de ser, fomos directos a um bar/restaurante de que o Luís, uma espécie de páginas amarelas-guia gourmet ambulante, se lembrava. A proprietária, ao ver as nossas bagagens, perguntou-nos se nos estávamos a mudar. Ajudou-nos a encontrar um estúdio por uma noite, no outro lado da rua. Do jantar há pouco a dizer e muito a recordar. Músicos excelentes, com quem tive a sorte de cantar algumas canções e perceber que tenho muito a aprender, um chatrou (polvo estufado) delicioso, um prato crioulo inesquecível e um planteur (rhum punch para os amigos) que me fez sentir em casa.

Estou em casa e não estou. Porque a nossa casa são, também, as pessoas que nos fazem falta.

Ontem chegámos ao Marin e procurámos imediatamente trabalho. Uma hipótese exige-nos uma visita aos affaires maritimes para podermos, com as nossas qualificações, obter equivalências para trabalhar em França.

Entretanto, vou conhecendo os lugares onde, sem saber, te conheci. O Mango Bay (cujo dono está descaradamente apaixonado por ti, coisa que não me surpreende), o Marché Couvert (onde comi ontem das melhores refeições da minha vida) e esta baía sem mar, que nos dá a impressão de estarmos, ao mesmo tempo, protegidos e limitados.

Tudo indica que a vida aqui deste lado não mudou. Eu sim, e não juro que tenha sido para melhor.


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