quinta-feira, 19 de julho de 2012

Lisboa, Portugal, 19-07-2012

Como estar em Lisboa de passagem sem transformar a estadia (a passagem) numa peregrinatio ad loca memoriam? Ou, pior ainda, numa peregrinatio ad loca infecta

Como estar de passagem nas nossas raízes?

Evitando voltar a tudo o que se conhece, tentando olhar para tudo o que não se conhece com olhos de quem não conhece (como se fosse possível).

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Há sítios onde se pode viver e sítios onde se deve viver. A distinção é difícil de definir e fácil de ver. Lisboa está nos lugares de topo em ambas as listas.

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Há cordões umbilicais que nos ligam a certos lugares. O Tejo tão claro, tão fundido no resto da paisagem; o ar tragicamente sério dos portugueses (ou seriamente trágico, à escolha); a luz, meu Deus, esta luz que me faz pensar que estou a mergulhar quando desço a rua do Alecrim de bicicleta. As ruas que não conheço, tão familiares como as que percorri milhares de vezes.

Somos de um lugar, por muito que ele fuja de nós, ou nós dele.

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Está um calor de torrar; no restaurante (especialidade: sandes) entram magotes de engravatados, encamisados, encasacados. Formais, tristes, sérios. Penso que já tentei pertencer a essa tribo e tenho vergonha (de mim; eles são todos muito bem).

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ASAE: peço um bagaço caseiro como se estivesse a pedir uma dose de LSD.

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A rapariga olha para todos os outros clientes como eu: um olhar simultaneamente perscrutador e tímido. Verá a mesma coisa que eu vejo?

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Penso nesta cidade que amo como se não tivesse nascido nela. Estar de passagem é uma sorte, uma bênção: estamos bem onde quer que estejamos, de onde quer que sejamos. 

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