sexta-feira, 29 de junho de 2012

Camaret-sur-Mer, Bretanha, França, 29-06-2012

A depressão que nos impediu de continuar o caminho passou hoje de manhã. A temperatura subiu, o vento caiu, a chuva parou. O anticiclone dos Açores começa a dar um ar da sua graça. Amanhã largamos, se tudo se confirmar.

A grande questão, evidentemente é "o que faz um marinheiro num porto enquanto espera pelo tempo?" A resposta é muito variável. Oscila entre "nada" e "baldear o convés, coser velas, limpar os fundos, reparações diversas, procurar hotéis, bilhetes de avião e de comboio para os armadores, procurar o ship chandler local, comprar provisões e assim por diante até ao infinito".

Além de travar conhecimento com os diferentes cafés, restaurantes e bares, claro.

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Isto é a teoria. Na prática o marinheiro chega a bordo e prepara-se para baldear o convés; descobre que o tanque de águas usadas, conhecido na intimidade por tanque da merda transbordou no paiol e que tudo o que lá estava (no paiol) adquiriu o consequente cheiro. Esvazia o paiol, limpa tudo o que lá estava e limpa o paiol. Descobre que a água fica na ré do dito paiol, pelo que é preciso transportar tudo o que lá estava para a proa da embarcação. Seca cuidadosamente o paiol, traz tudo o que lá estava para o poço e descobre que o tanque continua a transbordar. Como não sabe onde é a válvula para esgotar o dito tanque decide esperar pelo skipper e prosseguir com as outras tarefas.

Descobre que o produto que o armador tem a bordo para limpar o convés é uma, como dizer?, merda; faz o que pode (ou seja, esfrega o convés três vezes) e pelo sim pelo não vai ao pub Donegan Tavern beber um copo de vinho, uma foma de pasteurização como outra qualquer - menos eficaz, é certo, do que o whisky, mas mais adequada a outros parâmetros. 


E acaba no dito pub a pensar que uma embarcação de 32' é, afinal, amável, em certas circunstâncias.

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Depois pensa no passado recente e lembra-se do que pensou na Horta, pouco depois de lá chegar: a Horta é a Bequia deste lado do charco. E não há gin tónico como o do café Sport; e os preços, meu Deus, os preços.

Os bretões não são o povo mais simpático do planeta, longe disso. Mas são boa gente; e não há açorianos em mais lado nenhum do mundo, só nos Açores.

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Aproximadamente duas horas e dis copos de vinho depois de chegar ao pub o marinheiro lembra-se que ficou de fazer o jantar e, cheio de dúvidas existenciais -  faço um molho para os bifes ou não? Com que é que os vou acompanhar? - vai para bordo. Como ainda está frio, apesar da depressão ter passado, pensa que tavez não seja má ideia beber um copo de vinho enquanto Bruce Springsteen demosntra uma vez mais porque é o Boss, e o computador se apaga.

Decide que não sabe como vai fazer os bifes - eles que decidam como querem ser feitos - e que não bebe mais um copo de vinho. Um marinheiro de transportes não é um skipper de charter, Camaret não é a Horta e hoje é sexta-feira, não é segunda.

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Os bifes decidiram que não eram bifes, eram carne de slow cooking braised steaks, ou coisa que o valha, cito de memória, duas ou três horas de forno. Comemos salsichas de conserva com o aquecimento ligado e um arroz de pimentos que, ma foi, não ficou mau de todo.

E agora aproveitamos a vibrante vida nocturna de Camaret; T. no seu computador  e eu no meu.

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